A exploração combate-se<br>com unidade e luta
Os salários e os direitos dos trabalhadores estiveram em destaque na visita efectuada recentemente pelo PCP às instalações da Lisnave, em Setúbal.
Apesar dos lucros, a Lisnave aposta cada vez mais na precariedade
O PCP enviou ao estaleiro da Mitrena uma delegação composta pela deputada Paula Santos, Fernando Sequeira, da Comissão para os Assuntos Económicos, e Sónia Casmarrinha, Mário Claro e Nelson Mota, dirigentes regionais e concelhios do Partido. Para além da visita às instalações, a delegação comunista teve ainda a oportunidade de se reunir com as organizações representativas dos trabalhadores (ORT) e com a administração da empresa.
Nesta última reunião, os representantes da administração salientaram o facto de a Lisnave estar «confortável» a nível financeiro e com perspectivas de crescimento, apesar da forte concorrência internacional: só em 2015, foram reparados na Mitrena 107 navios e os lucros atingiram os 13,6 milhões de euros.
Apesar disso, confirmaram-se as preocupações já manifestadas pela célula do Partido na empresa de que não será contratado mais nenhum trabalhador devido à intenção da administração de reduzir os custos com pessoal. Foi este objectivo que presidiu à decisão da administração de criar, juntamente com o accionista Navivessel, uma empresa de prestação de serviços para a Lisnave para se angariar por aí a mão-de-obra necessária, a Lisnaveyards.
Precariedade e exploração
Os membros das ORT aproveitaram a reunião com o Partido para denunciar alguns dos problemas e dificuldades com que os trabalhadores se deparam actualmente na empresa. Particular gravidade assume precisamente a intenção da administração de acabar com as contratações para a Lisnave e, através da precarização total das relações laborais, pretender pôr fim ao trabalho com direitos no estaleiro. Para além das óbvias consequências para os trabalhadores ao nível da insegurança do emprego e das baixas remunerações, esta precarização tende a criar divisão entre trabalhadores, que estando a laborar lado a lado, nas mesmas funções e nos mesmos locais, têm condições contratuais muito diferentes. Isto não deixa de ter impactos negativos ao nível da acção unitária e reivindicativa.
Os representantes dos trabalhadores denunciaram ainda as severas condições contratuais aplicadas a quem entrou para o estaleiro nos últimos anos, através da Lisnaveyards. Estes, na sua maioria, são trabalhadores qualificados que recebem salários na maioria das vezes inferiores a 600 euros, ao mesmo tempo que vêem ser-lhes aplicado um regime de adaptabilidade e exploração predatório, em que cada trabalhador tem de perfazer 1800 horas por ano (incluindo 15 sábados) antes de poder começar a receber horas extraordinárias.
Ao lado de quem luta
Na visita, a delegação do PCP pôde ainda constatar a falta de modernização da maquinaria da empresa, o uso de ferramentas obsoletas e o descurar da higiene e segurança no trabalho por parte da administração. Na nota da Comissão Concelhia de Setúbal que dá conta da visita, o PCP sublinha que estas situações não são de forma nenhuma compatíveis com a imagem da Lisnave como uma empresa «moderna, competitiva e de nível internacional», que a administração pretende passar para a opinião pública.
Fazendo um balanço da visita, o Partido reafirma a condenação aos níveis de exploração e precariedade impostos aos trabalhadores do estaleiro da Mitrena, assim como a perspectiva clara de que com os lucros que os trabalhadores geram anualmente era possível – e justo – o «aumento significativo dos salários e dos direitos de todos os trabalhadores». O PCP deixou ainda o compromisso de apoiar a luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, apelando à união entre si e com as estruturas unitárias que os representam.